Falsa Causa

A falácia da falsa causa (post hoc ergo propter hoc ou cum hoc ergo propter hoc) ocorre quando se assume que uma relação entre dois eventos implica necessariamente uma relação de causa e efeito. Essa falácia ignora a possibilidade de coincidência, fatores externos ou uma relação inversa entre os eventos.

Origem e contexto histórico

A falácia da falsa causa foi identificada por filósofos desde a Antiguidade, sendo discutida por Aristóteles na sua análise sobre falácias. No pensamento científico, a distinção entre correlação e causalidade foi refinada por estudiosos como David Hume, que enfatizou que a mera sequência temporal não prova relação causal.

É uma falácia comum em debates políticos, medicina alternativa, pseudociência e economia, onde a causalidade é frequentemente assumida sem evidências concretas.

Como funciona na prática

A falsa causa funciona porque os seres humanos têm uma forte tendência cognitiva a buscar padrões e relações de causa e efeito, mesmo quando eles não existem.

Isso pode acontecer de duas formas principais:

  1. Post hoc, ergo propter hoc (“depois disso, logo por causa disso”) → Assume que um evento causou o outro apenas porque ocorreu antes dele.
  2. Cum hoc, ergo propter hoc (“com isso, logo por causa disso”) → Assume que dois eventos que ocorrem juntos possuem relação causal, quando podem ser apenas correlacionados.

Exemplos:

Superstição:

  • “Sempre que eu uso minha camisa vermelha, meu time ganha. Logo, minha camisa dá sorte.” (Não há evidência causal, apenas coincidência.)

Política:

  • “Desde que esse político assumiu, os preços aumentaram. Logo, ele é o culpado pela inflação.” (Pode haver outras causas, como fatores econômicos globais.)

Saúde:

  • “João tomou um chá de ervas e se curou da gripe. O chá foi a causa da cura!” (A gripe pode ter simplesmente seguido seu curso natural.)

Distorções cognitivas

  • Viés de confirmação: aceitar uma relação causal porque ela reforça crenças prévias.
  • Ilusão de causalidade: tendência de ver padrões e conexões entre eventos desconectados.
  • Heurística da disponibilidade: dar mais peso a informações facilmente lembradas, como eventos próximos no tempo.

Esses vieses fazem com que a falsa causa pareça intuitiva, mesmo sem evidências sólidas.

Perguntas que podem ser feitas

  • O evento B realmente aconteceu por causa de A, ou apenas depois dele?
  • Existem outras explicações possíveis para B além de A?
  • Há alguma evidência científica ou estatística que comprove essa relação causal?
  • É possível que um terceiro fator desconhecido tenha causado tanto A quanto B?
  • Existe um experimento controlado que demonstre que A sempre causa B?

Histórias para se inspirar

O Talismã da Sorte

Marcos compra um amuleto e, no dia seguinte, recebe uma promoção no trabalho. Ele acredita que o amuleto trouxe sorte e passa a usá-lo sempre, sem perceber que sua promoção foi resultado de meses de esforço e reconhecimento profissional.

O Novo Prefeito e o Crime

Um novo prefeito assume e, seis meses depois, os índices de criminalidade caem. Seus apoiadores dizem que isso prova sua competência, sem considerar outros fatores, como mudanças na economia ou estratégias da polícia que já estavam em andamento antes de sua posse.

O Milagre do Chá de Ervas

Maria estava gripada e tomou um chá recomendado por sua avó. Dois dias depois, estava curada. Ela conclui que o chá foi responsável pela melhora, ignorando o fato de que a gripe normalmente desaparece em alguns dias por conta própria.

Fundamentação científica

O estudo “Illusory Causation in Judgment” (Lilienfeld et al., 2010) examina como as pessoas tendem a inferir relações causais errôneas com base na proximidade temporal e na correlação. Os pesquisadores mostraram que, sem controle experimental, é muito fácil confundir correlação com causalidade.

Referência:
Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., Ruscio, J., & Beyerstein, B. L. (2010). 50 Great Myths of Popular Psychology: Shattering Widespread Misconceptions about Human Behavior. Wiley-Blackwell.

Reflita a respeito...

A falácia da falsa causa nos leva a tirar conclusões erradas porque buscamos padrões e relações de causa e efeito, mesmo onde eles não existem. Para evitar esse erro, devemos sempre perguntar: “Existe uma evidência real de causalidade ou apenas uma coincidência?”

Adotar uma mentalidade científica e buscar explicações baseadas em dados nos protege de crenças infundadas e manipulações argumentativas.

Artigos

Descubra como pensar melhor:

As Armadilhas da Mente: Quando Falácias e Vieses Sabotam Nossas Decisões

Nossas decisões são moldadas pelo modo como interpretamos o mundo. No entanto, essa interpretação é frequentemente distorcida por vieses cognitivos...

O Que a Neurociência Revela Sobre Vieses Cognitivos e a Tomada de Decisão

Nossa mente processa milhares de decisões todos os dias, muitas vezes sem que percebamos. Mas até que ponto nossas escolhas...

Outras falácias

Conheça também outras falácias lógicas:

Evidência Anedótica

Petição de Princípio

Apelo à Ignorância

Deixe seu comentário

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x

GPT Feedback Cognitivo

Faça o seu cadastro a seguir para ter acesso exclusivo ao GPT Feedback Cognitivo:

Obs.: É necessário ter uma assinatura paga do ChatGPT para que você possa acessar este GPT.

GPT Mapa Metacognitivo

Faça o seu cadastro a seguir para ter acesso exclusivo ao GPT Metacognitivo:

Obs.: É necessário ter uma assinatura paga do ChatGPT para que você possa acessar este GPT.