A Coevolução Gene-Cultura descreve como genes e cultura evoluem juntos, influenciando-se mutuamente ao longo das gerações. Mudanças culturais criam novos ambientes que selecionam variantes genéticas, enquanto predisposições genéticas moldam como a cultura se desenvolve, formando um ciclo contínuo de retroalimentação evolutiva.
A teoria surge nos anos 1970–1980 com Robert Boyd e Peter Richerson, mas é amplificada e refinada por Joseph Henrich a partir dos anos 2000. O ponto central é romper com a visão clássica de que evolução biológica e evolução cultural são processos independentes. Henrich demonstra que humanos são produtos de uma dupla herança:
a genética, transmitida biologicamente,
e a cultural, transmitida socialmente por aprendizado.
Henrich argumenta que nossa espécie criou ambientes culturais tão complexos – agricultura, grupos cooperativos, normas sociais, ferramentas, rituais, parentesco, moralidade – que a própria cultura passou a ser uma força seletiva. Exemplos paradigmáticos são:
evolução da tolerância à lactose em populações com longa história de pecuária;
evolução de amígdalas menos reativas em sociedades com instituições cooperativas;
transformações psicológicas profundas em populações WEIRD (“ocidentais, educadas, industrializadas, ricas e democráticas”).
A teoria é consolidada em The Secret of Our Success (2015) e The WEIRDest People in the World (2020), influenciando antropologia, psicologia evolutiva, neurociência social e ciência da cultura.
A Coevolução Gene-Cultura opera por meio de loops de retroalimentação que conectam práticas culturais a pressões evolutivas:
Ambientes culturais criam novas pressões seletivas
Inovações como agricultura, sedentarismo, escrita, instituições morais e regras matrimoniais alteram drasticamente ecologias sociais, alimentares e cognitivas. Isso modifica quais genes favorecem sobrevivência e sucesso reprodutivo.
Aprendizado social molda comportamento rapidamente
A cultura pode mudar muito mais rápido do que genes. Quando uma prática cultural se espalha, ela altera o ambiente de seleção para toda a população.
Genes se ajustam às práticas culturais
Ao longo de gerações, mutações vantajosas em ambientes culturalmente específicos são selecionadas. Exemplos:
tolerância à lactose após milênios de dieta com leite;
adaptações imunes relacionadas à urbanização;
mudanças cognitivas associadas à escolarização.
A cultura amplifica capacidades cognitivas
A mente humana é vista como um “órgão cultural”: nossa inteligência depende de ferramentas culturais (linguagem, números, regras, tecnologias) que expandem capacidades inatas.
Cultura como “sistema externo de informação”
Henrich propõe que a cultura funciona como um repositório evolutivo: acumula conhecimento que nenhum indivíduo isolado conseguiria gerar. Isso impulsiona tecnologias complexas, cooperação ampliada e sistemas morais.
Psicologia moldada por instituições
Normas, igrejas, estruturas de parentesco e regras sociais alteram personalidade, cognição analítica, confiança e estilos de pensamento — moldando literalmente “tipos de mente”.
O modelo descreve a evolução humana como um processo integrado no qual cultura e biologia se ajustam dinamicamente.
Antropologia evolutiva
Explica por que populações humanas diferem não apenas em cultura, mas em psicologia, fisiologia e predisposições comportamentais decorrentes de histórias culturais distintas.
Psicologia cultural
Fenômenos WEIRD são compreendidos como produtos de instituições particulares (família nuclear, individualismo, alfabetização), não como características universais.
Ciência das normas sociais
Normas de cooperação, punição, casamento e religião transformam pressões seletivas e moldam comportamentos morais e emocionais.
Saúde e nutrição
Dietas, rotinas e tecnologias alimentares moldam microbioma, imunidade e adaptações metabólicas de longo prazo.
IA e agentes culturais artificiais
A teoria inspira modelos de agentes que aprendem socialmente, transmitem informação e sofrem “seleção” dentro de ecossistemas culturais simulados.
A teoria da Coevolução Gene-Cultura é essencial para o Thinking Lab, pois mostra que mentes humanas são moldadas tanto por capacidades biológicas quanto por ambientes culturais, regras, valores e instituições. Isso justifica a criação de softwares conceituais que modelam ecossistemas culturais dinâmicos, onde agentes aprendem, transmitem conhecimento e transformam pressões cognitivas.
Nos espelhos cognitivos, a teoria permite identificar como normas internalizadas moldam raciocínio, motivação, tomada de decisão e modos de pensar – alinhando-se à abordagem do laboratório de modelar mentes como sistemas integrados a ambientes socioculturais.
A coevolução dá base teórica para projetos que exploram emergências coletivas, transmissão cultural, formação de crenças e mudanças institucionais.
Henrich, J. (2015). The Secret of Our Success.
Henrich, J. (2020). The WEIRDest People in the World.
Boyd, R., & Richerson, P. J. (1985). Culture and the Evolutionary Process.
Henrich, J., McElreath, R. (2003). “The evolution of cultural evolution.” Evolutionary Anthropology, 12(3), 123–135.
Laland, K. N., et al. (2010). “How culture shaped the human genome: Bringing genetics and the human sciences together.” Nature Reviews Genetics, 11, 137–148.
A Coevolução Gene-Cultura revela que não somos apenas produtos da biologia nem apenas produtos da cultura – somos o resultado vivo da interação profunda entre ambas. Essa visão dissolve fronteiras entre natureza e cultura e transforma nossa compreensão da mente, mostrando que a cultura literalmente remodela cérebros e corpos ao longo do tempo.
Para IA cognitiva, isso sugere que mentes artificiais verdadeiramente humanas precisariam viver em ecossistemas culturais, aprendendo com outros agentes e gerando tradições. Para a filosofia da mente, oferece uma visão expandida da cognição como fenômeno distribuído entre cérebros, práticas e instituições. E para a vida prática, traz um insight poderoso: transformar cultura é transformar a biologia humana do futuro.
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